Primeiro post de 2012

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(Umberto Eco, um dos maiores da minha cosmogonia pessoal)

Sim, sou dessas.

O ano virou, minha vida também, logo…o post novo demorou a sair do forno. Por forno, entendam meu cérebro.

Depois de corrigir uma centena de trabalhos, chegou a hora de começar a escrever o meu próprio. E, claro, como não poderia ser diferente, passo a madrugada escrevendo duas páginas e, por fim, me rendo e decido postar no blog.

Poderia falar dos livros que li desde o último post (na verdade, isso já faz parte do segundo post de 2012), mas acho que quero falar de pessoas idiotas. Sim, porque acho que a essa altura todo mundo já sabe que a única coisa perfeita do mundo são os perfeitos idiotas. E ainda mais, eles sempre vencem por quantidade, sabe-deus-por-quê. Então vamos lá:

Primeira parte: mea culpa, mea maxima culpa. Eu, jovem niteroiense de nascimento e cristã de criação, confesso que perdi infames cinco minutos do meu dia lendo essa merda aqui. Uma merda, a internet está cheia delas, ok, abre o link quem estiver com vontade de bater palma pra maluco.

Acho que a imbecilidade do texto é tão grande que dispensa comentários, né? Porque, afinal de contas, se maioria fosse sinônimo de qualidade, estaríamos todos carregando pedras para o Führer e pedindo a Deus que matasse e ao Diabo que carregasse. Não, amiguinho, você entendeu tudo errado. Qualidade não é o mesmo que quantidade, quem vende livros não é escritor, quem faz música não é compositor e assim sucessivamente. Lá vou eu, mais uma vez, com minha alma de missionária (ou seria alma de professora, enfim…), tentar explicar o que é obra de arte, dessa vez numa versão mais (ainda) for dummies.

Aliás, nem sei se quero mesmo tentar explicar isso. Eu acho tão absurdo, que não sei nem por onde começar. Queria lembrar de cabeça de uma frase de algum livro do Faulkner, pra mostrar que a genialidade, infelizmente, não está aí para as massas desfrutarem livremente. Sim, me chamem de intelectual elitista, é previsível. Mas acho uma tremenda enganação querermos acreditar que nosso sistema escolar pode produzir leitores capacitados de James Joyce ou apreciadores de música erudita. Vivemos sob a égide do capitalismo, que implantou a culturas das massas e é isso aí. Michel Teló (agradeço a Deus por não ter ouvido a música, aqui só tem tocado jazz devido à temporada de monografias), BBB, programas de futilidades todos, são gostos implantados. Não acho que mereça entrar no mérito, como fez o pela-saco do Los Hermanos, se é bom, se é uma merda, ou qualquer outro juízo de valor. Cultura de massas é isso aí, galera, qualquer aluno de oitavo ano sabe disso.

Como eu sempre – sempre mesmo – fico falando de literatura, farei o de sempre. Já disse isso aqui e vou repetir. Paulo Coelho pode vender milhões de livros que ele nunca vai ganhar um Nobel. O que ele escreve é feito, pensado e arquitetado sob medida para você, sim você, que está perdendo seu tempo comigo, mas que desejava ouvir palavras reconfortantes em meio ao turbilhão da (pós)modernidade.

O que faz uma obra de arte –  na minha humilde opinião – é um poder de desconforto. Falando de Faulkner (ok, não sei por que, estou com ele na cabeça hoje), quando li Palmeiras Selvagens, fiquei extremamente desconfortável. Indescritível. Não dá pra explicar se é apenas a linguagem levada ao extremo (a tradução também era de uma maestria ímpar) ou se era a narrativa, hermética, recortada, fragmentada e depois reunida, o silêncio, não sei… Confesso que, nesses momentos, me sinto muito mais uma leitora apaixonada que uma crítica especializada.

 

Bem, resumindo, 2011 foi um bom ano pro Antimemorias. Espero fazer com que 2012 também seja.

PS: Sim, há! Fiquei um tempinho aqui procurando uma passagem de um dos meus livros favoritos do Umberto Eco (Ainda não li O cemitério de Praga, por favor, sem spoilers nos comentários) e encontrei. Em A memória vegetal, tem uma parte que se chama “a loucura dos especialistas” e me é particularmente cara por dois motivos. O primeiro, bastante óbvio, me sinto capaz de, quem sabe um dia, fazer piada com algum escritor por aí e ele ser o próximo James Joyce. Segundo porque essa passagem comprova que toda a idiotice que tem sido disseminada por aí é mais do que equivocada.

Bem, deliciem-se com o mestre italiano: “Em 1851 Moby Dick foi recusado na Inglaterra coma seguinte avaliação: Não achamos que possa funcionar no mercado de literatura para jovens. É longo, de estilo antiquado e cremos que não merece a reputação de que parece gozar”. (…) Quanto ao nosso século, eis alguns exemplos: James Joyce, Dedalus, 1901: No final do livro tudo se desintegra. Tanto a escrita quanto as ideias  explodem em fragmentos  meio úmidos, como polvorim molhado. (…)Faulkner, Santuário, 1931: Meus Deus, meu Deus, não podemos publicá-lo. Acabaremos todos na prisão”.

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